Onda de calor: 69% dos ônibus do transporte público de Campinas não têm ar-condicionado
18/02/2025
(Foto: Reprodução) Contrato atual com operadores não prevê obrigatoriedade de uso do equipamento. Nova licitação foi o ‘principal desafio’ para os primeiros 100 dias do segundo mandato do prefeito. 70% dos ônibus do transporte público em Campinas não têm ar condicionado
Dos 902 ônibus do transporte público de Campinas (SP), 280 possuem ar-condicionado. Isso significa que, em meio à onda de calor que tem feito as temperaturas passarem dos 30°C, 69% da frota não têm o equipamento que garante um pouco mais de conforto aos passageiros.
Os dados são da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), órgão responsável pelo trânsito e pelo transporte na metrópole.
Além disso, segundo a Emdec, o contrato vigente não obriga que o ar-condicionado seja mantido ligado durante os trajetos, mesmo em dias de altas temperaturas.
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Em meio à onda de calor, transporte público de Campinas tem ar condicionado em 31% dos ônibus.
Reprodução EPTV
Licitação atrasada
Atrasada desde 2016, a nova licitação do transporte prevê que todos os veículos tenham ar-condicionado. A realização da concorrência foi tratada pelo prefeito, Dário Saadi (Republicanos), como principal desafio do novo mandato.
Além disso, a administração municipal colocou a publicação do edição como meta a ser entregue nos primeiros 100 dias da atual gestão. Ou seja, até o início de abril.
Em nota, a Emdec “orienta que o ar-condicionado dos ônibus seja mantido ligado, especialmente em períodos de calor intenso”. Nos veículos que não possuem o equipamento, as janelas devem permanecer abertas, indica o órgão.
Sobre a nova licitação, a empresa informou que está na etapa de análise das sugestões que foram recebidas nas audiências públicas que ocorreram no fim de 2024 e está finalizando um documento preliminar do edital que será disponibilizado para consulta pública.
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'Não tem muito o que fazer, tem que enfrentar'
A equipe da EPTV, afiliada da rede Globo, percorreu algumas linhas dentro dos ônibus do transporte público e conversou com passageiros que reclamavam do calor e da falta de ar-condicionado.
Alguns motoristas improvisam pequenos ventiladores, enquanto os passageiros precisam enfrentar o calor com as janelas abertas que geralmente não são suficientes e se abanando com o que estiver na mão.
“Todo dia, a gente pega o ônibus, ônibus lotado, calor, sol. Aí a gente fica assim, suando, complicado, mas a gente precisa né? Não tem muito o que fazer, tem que enfrentar [...] faz falta realmente o ar-condicionado, fica complicado. A gente paga caro na passagem e não tem o que precisa”, diz a auxiliar de limpeza Ana Cláudia de Souza
Mudanças da nova licitação
Terminal Campo Grande, em Campinas (SP)
Carlos Bassan/PMC
A prefeitura realizou, entre os dias 9 e 20 de dezembro de 2024, 11 audiências públicas sobre o novo modelo de concessão. Nessas reuniões, o governo recebeu sugestões que podem ser incorporadas à licitação.
O que mudou?
👉 Revisão da frota de ônibus elétricos para aumentar viabilidade: serão 60 veículos eletrificados no total, sendo dez por ano, em crescimento escalonado do primeiro ao sexto ano de concessão.
👉 Incorporação do sistema PAI-Serviço: os veículos oferecem transporte a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e, segundo a prefeitura, serão modernizados.
👉 Sistema de arrecadação e remuneração (bilhetagem): participação da prefeitura e Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), de maneira mista, junto com as operadoras de transporte.
👉 Atualização de índices financeiros: no edital anterior, que não recebeu proposta, o valor total previsto era de R$ 8,2 bilhões. Segundo a administração, a nova previsão será disponibilizada quando os documentos forem colocados em consulta pública.
O que se manteve do edital anterior?
A nova licitação do transporte público de Campinas manteve a duração anterior, de 15 anos, prorrogáveis por mais cinco, e terá a operação dividida em dois lotes, sendo o primeiro das regiões Norte, Oeste, Noroeste, e o segundo para as regiões Leste, Sul e Sudoeste. Veja o que o edital prevê:
👉 Ônibus novos, mais confortáveis, silenciosos e menos poluentes;
👉 Mais informação para os usuários, confiável e em tempo real;
👉 Serviço com menos tempo de espera nos pontos, estações e terminais;
👉 Viagens mais rápidas;
👉 Frota do sistema BRT (Ônibus de Trânsito Rápido, na sigla em inglês) integrada ao sistema e moderna;
👉 Veículos com ar-condicionado, Wi-Fi, tomadas com conexão USB, câmeras CFTV, GPS e terminal de computador de bordo.
Segundo o Executivo, as próximas etapas do processo de licitação, além de incorporar as sugestões das audiências e disponibilizar os documentos para consulta, são "a criação do modelo de gestão da bilhetagem, ajuste e atualização do projeto básico e abertura das propostas".
Investigação
Depois que a licitação foi considerada deserta, a Polícia Federal abriu um procedimento para investigar uma denúncia contra possíveis interessados na licitação do transporte público. À época, a corporação informou ao g1 que queria entender por que representantes de empresas interessadas foram até o local do pregão, no dia da licitação, mas não ofereceram propostas. A prefeitura não é investigada.
Nesta terça-feira (10), a Polícia Federal informou ao g1 que verificou que não havia interesse a cometer nenhum dado a algum bem da União, o que configura que não há competência da corporação para fazer a investigação. O caso foi remetido ao Ministério Público (MP).
Histórico
Inicialmente prevista para março de 2016, a nova licitação é aguarda porque o Tribunal de Contas do Estado (TCE) avaliou como irregular a concorrência de 2005. Segundo o tribunal, as empresas não poderiam ter passado pelo sistema de avaliações técnicas dentro da licitação de preços. A definição do novo contrato virou uma "novela". Relembre abaixo.
Estação Mário Gatti faz parte do BRT de Campinas
Emdec
Em maio de 2023, o TCE-SP determinou a reformulação do edital com correções de 14 itens para o processo ser retomado. À época, o voto do conselheiro Dimas Ramalho, relator da matéria, dizia que os ajustes eram necessários para manter a competitividade.
O processo chegou a ser interrompido pelo próprio tribunal em 1º de março de 2023, após contestação pelo sindicato das empresas do segmento (Setcamp).
O pedido do TCE-SP foi acatado pela administração municipal e o edital reformulado foi publicado no dia 14 de julho. Os estudos para adequações foram realizados pela Emdec e secretarias de Transporte, Administração e Justiça, com apoio da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Em 19 de setembro de 2023, o TCE-SP negou pedido para suspensão do processo licitatório reivindicado novamente pelo sindicato das empresas. A entidade alegou que parte dos itens não teria sido corrigida pela administração municipal.
Entretanto, em 20 de setembro, houve abertura dos envelopes, mas nenhuma proposta foi apresentada e a licitação foi considerada deserta.
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